Quando se encontra uma deusa
É de mister amá-la.
Por uns dois dias
Esteja inteiramente apaixonado,
Que isso convém à poesia,
E a poesia é amiga do amor,
Mas no terceiro dia,
Ou te casa, ou sê amigo,
Pois que o amor nunca pode ser estorvo
Nem para si, nem para o outro.
E quando amigo, sê escudeiro,
O mais fiel cavalariço:
Para uma deusa, esteja sempre disponível,
Tal como um primo, tal como um pai,
Que toda deusa precisa disto.
Sê cavaleiro de sua angústia,
Do seu momento de solidão
E amansa o potro dos seus temores,
Se ela te der tal privilégio.
Sê cavaleiro dos seus sonhos,
Se numa noite, sem borda ou medida,
Ela quiser comparti-los,
― Eis o teu momento de sorte.
Mas cavalheiro, abdica de sê-lo:
Isto é excesso entre mulher e homem.
Sê espontâneo, segura firme,
Olha nos olhos, rouba seus lábios.
Beija como quem se despede
Ante a viagem que está por vir
E irá durar um oceano, um continente,
Mesmo que ela seja tua vizinha.
Pois, de fato, entre cada momento
Há um mar imenso e seu naufrágio.
Amar demanda filosofia.
Amar demanda religião
Mas o único deus é o coração
E o corpo nu, seu sacramento.
Toma os seus seios como quem faz
A santa ceia: come-a, amigo, não te deites,
Que deitar é pra dormir, comer
É para a vida!
Diz a palavra de fogo, a palavra
De rua: pede o de que precisas,
Pois de outro modo, irás morrer.
Nada prometas, nada perguntes.
Ouve-a como se ouve a Vivaldi.
Nota o seu menor desejo.
E depois de tudo,
Sê como irmão: sangue do sangue,
Cúmplice de um crime perfeito.
Nada cobres: nada dispenses.
Igor Buys
31 de janeiro de 2011
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