sábado, 23 de maio de 2015

DÉJÀ-VU


Por hoje, queria ser teu irmão de sangue.
É sério: entrar no teu quarto, abraçar tua cabeça.
E nada dizer. Apenas auscultar tua respiração.

Eu tenho-te avistado debruçada na noite, como a lua,
tão próxima e distante: em halo.

E se algo dessa tua claridade já me banha,
logo estou sorrindo, e risco estes reversos
do silêncio e da palavra, nos quais te calo.

Palavras de fogo e desejo são um disfarce, às vezes
quando tudo o que se quer é
o que não sei dizer. Porque talvez seja silêncio.
Calma. Ai, lagoa verde, infinita...

De onde eu te conheço, há tanto tempo.
De onde...

Tempo.

O que será o tempo, enfim,
aquém dos estalidos do relógio,
sob a pele das horas, que nada são.
O que será o tempo.

Por que o gosto da tua boca está na minha.
Como... Há quanto tempo, isso vibra na espiral sem-fim.
Dejà-vu, talvez. Só isso. Ou nem isso.
Talvez seja: somente a saudade. Sim, a saudade de algo
(que esqueci...)

Mas não cumpre escrever sobre o espírito.
Quero a pele das coisas! A verdade entremeada
nas células, pregada de prótons! Quero a imagem honesta
e boa: clara; não a poesia da moral e da mentira!

Por hoje, queria ser teu irmão de sangue.
Mergulhar nos teus olhos... Tocar no teu rosto.
E nada dizer.


Igor Buys
04 de janeiro de 2011



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