"Uma das minhas primeiras tarefas, após ler o "Rei
da Selva" foi ler Hamlet cuidadosamente e extrair elementos que poderiam
ser usados no roteiro. Os desenhos animados da Disney foram concebidos para
funcionar em todos os níveis da audiência, com gags físicos para as crianças
mais novas, ações e tiradas irreverentes para os adolescentes e piadas
subliminares para os adultos.
Rafiki, o babuíno maluco que é um misto de médico e
feiticeiro, era um dos personagens mais interessantes no roteiro, combinando
elementos de um mentor e de um pícaro. Nas primeiras versões da história, senti
que sua utilidade não estava clara. Ele era usado para efeito cômico, como um
cara lunático que aparecia para fazer ruídos mágicos mas que não merecia
respeito. O rei o via como um estorvo e Zazu, o pássaro conselheiro do rei, o
afugentava cada vez que tentava se aproximar do pequeno Simba. Ele tinha pouca
função no roteiro após a primeira cena, e aparecia basicamente para dar um
relevo de comicidade à história, mais um pícaro do que um mentor. Na reunião
que se seguiu à apresentação do storyboard, sugeri que o levássemos um pouco
mais a sério como mentor. Talvez Zazu ainda se mostrasse desconfiado e tentasse
afastá-lo, porém, Mufasa, mais sábio e compassivo, o deixaria se aproximar do
filhote. Tive o impulso de acentuar os aspectos ritualísticos do momento,
fazendo referência aos rituais de batismo, ou às cerimônias de coroação nas
quais o novo rei ou rainha recebe na testa a aplicação de um óleo sagrado.
Rafiki poderia abençoar o leãozinho, talvez com um suco de frutos silvestres ou
outra substância da selva. Um dos desenhistas disse que Rafiki já possuía uma bengala
com estranhas cabaças amarradas a ela e teve a ideia de que Rafiki poderia
quebrar uma delas num gesto enigmático e marcar a fronte do pequeno leão com um
líquido colorido"
Don Ramon
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