O carioca é um povo do mar.
Tudo aqui gira em torno do oceano e do sol,
Mesmo que se o não perceba de pronto.
Ao carioca é feio estar-em: belo é o pôr-se
Andando, movendo-se permanentemente,
Como se move o próprio mar e os rios
Que nele encontram o seu ilimitado, azul.
Quem é do Rio deve ser também um rio
E estar rumando infatigavelmente ao mar.
É belo ter a pele dourada, bronzeada, roxa;
Quem está branco está doente, esteve preso,
Quem está doridamente rosado é um parvo,
Um gringo, algum tipo de pária que não sabe
Ser filho do sol e comungar da luz infinita.
É belo o calor, o gosto por experimentá-lo.
Quem vem com tudo não cansa,*
Não pára: é feio assistir muita TV,
Perder muito tempo diante do PC e da net;
Ganhar o tempo é mover-se, dançar a vida,
E a vida está na rua, na praia, no Carnaval,
No reveillon e nas festas, de preferência:
A céu aberto, sob auspícios do sol argento
Das madrugadas: verão é belo; inverno, não.
É feio ficar muito tempo sem sexo: sem nexo.
O carioca não possui arma de fogo, mas luta:
São belos os movimentos da capoeira, a dança;
Jiu-Jitsu é justo e brasileiro: pertence aos Grace,
E os Grace ao Rio, e o Rio ao mar que rola,
Que dá queda, pesa e imobiliza: deixa rolar...
Segura a onda, que a parada é dura. Não é mole.
A garota que vem e que passa, caminho do mar.**
A moça do corpo dourado é balanço, é marola,
Resíduo da aurora incandescente, madrugadora:
Ardente de vida. O seu balançado marca o tempo
Da poesia, da estação, da cidade que se redime
Do sono: acordar é belo. Ao ar livre, desnudar-se:
Isto é a vida, isto é o rio: o resto é selva de pedra.
______
*Alusão: “Quem vem com tudo não cansa”; Cazuza.
**Alusão:
“[...] é ela menina, que vem e que passa / Num doce balanço
a caminho
do mar / Moça do corpo dourado / Do sol de Ipanema / O seu
balançado é
mais que um poema”; Vinícius.
Igor Buys
10 de fevereiro de 2011
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