Postes pretos. Pingos dependurados nos fios. Noite gris ao
fundo. Som de um carro que arqueja distante. Cores derretidas, formas fundidas;
mundo impreciso. Poças de espelho e ácido, fogo branco a dissolver automóveis
imóveis. Poças de tinta fervente adiante e outros carros queimando frios.
O salto do sapato me estala sobre o chão de pedras,
cortadas, losângicas. Cigarro com gosto de água; chama exausta já se
extinguindo. Preto e cinza sobre cinza e prata, sobre cinza e preto, azuis e
roxos. E alguma chama vermelha, algum detalhe amarelo em qualquer parte.
Atravesso
a rua, dobro
a esquina. E eis que a Lua quadrada se debruça no céu
emparedado, derramando de si a su’alma feminina. Momento esperado e lento;
liquoroso, amavioso vento a jorrar de tão longe... Aceno de dentro do escuro.
Ternura eterna; sorriso meu entre vapores. Vislumbro-a fascinado, coberto de
estrelas. E de súbito, alguém a chama, derrete-se a platina candente de seus
cabelos. Janela vazia. Negra.
Respiro fundo, sigo andando; daí a dez passos,
se passaram vinte anos.
Igor Buys
16 de outubro de 2010
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