terça-feira, 19 de maio de 2015

MEU CORPO lembra Frida Kahlo. A marca que impede uma alma livre de ser plena, correr ao encontro de tudo. O congelamento do corpo em uma cama, em um espaço cerzido. Ela – Frida – não aceitou e pintou sua realidade com traços de luz/fogo/alfazema/lágrima e amou de um amor irrepreensível e nunca aceitou que o mundo a taxasse de menor ou pequena... Frida sussurra no meu travesseiro a ladainha da rebeldia: Ergue este queixo bonito e pisa as flores da tua escolha, e ama e ama até forjar uma chuva de colibris acima dos abismos. Frida, Frida... Ainda estamos colhendo estas aves azuis com nossas mãos pequenas. Tua liberdade era estrela bastarda – eterna fagulha no céu – eu a agarro como quem monta uma égua dilacerada, pretendendo com ela atravessar a agonia do viver. E quando meu corpo esquece que é teu corpo eu contemplo este duplo meu e a minha voz interior diz claramente – sou Frida à medula.
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Terminou de soar na relva a foice do crepúsculo...
Eu sinto hoje uma vontade louca
De mijar, da janela, para a lua.
(Sierguiéi Iessiênin)

O desencanto mata os centauros brancos
Quem antes deblaterava contra o negror
Morre branco de dor no Hotel Inglaterra

O desencanto raspa a tintura do poema
Rasga peles à carne viva
Mata meninos na flor da bonança

Os homens desde os Césares até Bush
Os homens desde a antiga Babilônia até USA
Os homens desde a primeira fala até o último ditador
Vestem o desencanto como luva

E havia nele tanto amor!
Morrer não é difícil - ele disse -
Difícil é o ofício de ressuscitar a esperança
Respiração boca a boca em todas as manhãs

Lá vai o menino pelos campos
Infância a caminhar em tábuas rústicas
Molha a lua com seu xixi audacioso

Lá vai o menino pelas ruas
O verso na boca
O coração aos saltos

Em Moscou ama Isadora meio à fumaça do bar -
Cão Vadio - Maiakovski, a poesia, a luta
A neve diabolicamente alva de dezembro
Vai colorir-se do rubro sangue de um poeta
E na parede a mensagem escrita a sangue

Viver é difícil, sim, viver é
Este é teu canto real
Ao qual nenhum poeta escapa

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Os poetas
Conhecem
O genoma
Das flores
E a pulsação
Das estrelas.

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Poemas do livro “Respirar” (2014) — com Barbara Lia II.


Aí o sujeito diz que passou os últimos dez anos da vida dele trabalhando no livro e que agora, finalmente, ele acredita que está no ponto para uma publicação. Frisa que nunca teve pressa em publicar. Então você lê, passa para o conselho editorial (enquanto isso ele vai ligando, como quem não quer nada, pergunta se você já leu). Então você aprova, chama o camarada para conversar, no dia seguinte assina o contrato. Menos de uma semana depois ele já começa a perguntar quando sai o livro, se o projeto gráfico já está pronto, diz que tem pressa, que o livro tem que sair no mês que vem, que ele já está convidando as pessoas... Autores!!

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