As palavras.
De Mara Paulina Arruda
Tive que arrastá-las nas frasesflores. E só Deus sabe o quanto foi difícil.
Ele pegou as chaves e jogou-as no alto. Toda vez que ela aparecia era assim:
Ele estava com Ela na cabeça. E não conseguia escrever direito o que tinha que
escrever. Tipo essa guria é maravilhosa. Sebo nas canelas. Corre que a vida é
pra gente forte. Teretêtê o poeta é aquele que não promete, mas que se perde na
promessa. E se perde, também, nos sonhos que ele compra na lanchonete às três
horas da tarde. Mede o tempo com fita métrica como se fosse costureira que lida
o dia inteiro com fazendas. E o trabalho? Que fique esperando um pouquinho. Por
que a vida tem tempo e a insipidez é água musical e o café com leite é bom.
Dourados e cascudos na cabeça.
Isso foi o que a criança, sua filha, leu ao meu lado; uns trechos da
enciclopédia que estava sobre a mesa. Ele pegou o livro e fez questão de ler em
voz baixa, pelo sim pelo não, estava encabulado. O segundo volume da
enciclopédia falava de flores, das espécies raras, da diversidade geográfica em
que aparecem e das qualidades das sementes. Falava também do nome das pessoas
que eram iguais as flores. Anêmona? Lírio? Salada de rosas? Contou que um dia
teve que fazer bem-me-quer, mal-me-quer com uma margarida. Coitada da flor que
teve que enfrentar esse jogo! Foi o que eu disse enquanto recolhia os
copos-de-leite: Ele, pensativo, puxou a criança pela mão e foi cultivar o seu
jardim.
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