domingo, 18 de novembro de 2012

As palavras.


 De Mara Paulina Arruda
 
Tive que arrastá-las nas frasesflores. E só Deus sabe o quanto foi difícil. Ele pegou as chaves e jogou-as no alto. Toda vez que ela aparecia era assim: Ele estava com Ela na cabeça. E não conseguia escrever direito o que tinha que escrever. Tipo essa guria é maravilhosa. Sebo nas canelas. Corre que a vida é pra gente forte. Teretêtê o poeta é aquele que não promete, mas que se perde na promessa. E se perde, também, nos sonhos que ele compra na lanchonete às três horas da tarde. Mede o tempo com fita métrica como se fosse costureira que lida o dia inteiro com fazendas. E o trabalho? Que fique esperando um pouquinho. Por que a vida tem tempo e a insipidez é água musical e o café com leite é bom. Dourados e cascudos na cabeça.
 
Isso foi o que a criança, sua filha, leu ao meu lado; uns trechos da enciclopédia que estava sobre a mesa. Ele pegou o livro e fez questão de ler em voz baixa, pelo sim pelo não, estava encabulado. O segundo volume da enciclopédia falava de flores, das espécies raras, da diversidade geográfica em que aparecem e das qualidades das sementes. Falava também do nome das pessoas que eram iguais as flores. Anêmona? Lírio? Salada de rosas? Contou que um dia teve que fazer bem-me-quer, mal-me-quer com uma margarida. Coitada da flor que teve que enfrentar esse jogo! Foi o que eu disse enquanto recolhia os copos-de-leite: Ele, pensativo, puxou a criança pela mão e foi cultivar o seu jardim.

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