De Mara Paulina Arruda
Aline, este texto foi escrito as pressas entre a hora do
almoço e a hora que recomeça o trabalho. Hoje, me atrasei na manhã. Sabe-se lá
por que!!! E o fato é que fiquei um tanto quanto amedrontada com a
possibilidade de não ter nessas breves linhas o efeito poético que gostaria de
causar. É quase impossível não falar das barbaridades que o mundo enfrenta e
agora, com esta carta dobrada e protegida dentro da bolsa penso naquilo que
você quer que se fale. Mas são tantas coisas.
Aline, por favor, perdoe-me se não consigo chegar ao lugar
esperado por você. Lá fora, digo lá fora de dentro de mim e de ti, de nós que
somos assim meio bobos com os sentimentos há todo um movimento centrífugo da
humanidade.
Daqui a pouco você, enquanto lê vai dizer: ora, vai se
catar!
Espere.
Por favor, vou te contar que com a sementeira nas mãos fazia
covas na terra recém virada pelo trator. Tinha sobre os meus cabelos aquele
chapéu de palha que você bem conhece. Cheiro de fumo –não de mim- mas do
cigarro de palha que atrás da orelha estava de nosso querido Juvenal. Ele,
disse para Dilva que não fez por mal. Bem capaz!!! E eu tive que ficar, um
pouco, plantada no portão da casa cuidando das flores sempre-viva.
Aline, você é de sorte. Tataraneta da Baronesa de Limeira,
uma mulher de classe que veio do interior de São Paulo parar por aqui na luta
pela terra você tem esse espírito lutador. Hurrummm... Ainda que tudo já tenha
se perdido no tempo. Percebe que tanto eu quanto você gostamos de cuidar das
nossas histórias? Dentro de nossas possibilidades por enquanto nos resta
trabalhar e dar conta desses bolinhos fritos recheados de doce de leite. E,
cuidar da nossa filha que vai para a Escola e que é inteligente que só! A vida
segue com alguns problemas, a bem da verdade, fazer o quê? E é de Josiel que
estou aqui falando para terminar, de vez, a resposta à sua carta. Ele está na
cama, doente, desde o ano passado, naquele hospital. Doença adquirida
decorrente da utilização dos agrotóxicos na lavoura. Agora Aline, quero combinar
contigo que assim que você vier nos visitar façamos o seguinte: numa bolsa
coloquemos uns livros para Josiel ler e passar o tempo com mais qualidade.
Penso que pode ser uma atitude bonita. E nós sabemos: Josiel, observador que é
não gosta nem de pensar na palavra piedade.
Despede-se aqui a sua amiga de longe
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