eis a terra e aqui jazem os homens
não é naco, torrão, quarto de légua em quadro
em que se assente casa, rastro, vida dobrada
nem é terra que daqui se veja
embora imenso latifúndio seja
cantai-me ó jornais, contai-me camaradas,
e que as cínicas musas me abençoem
eis a terra onde jaz o homem
não é terra que revolva o arado,
e ceife o podão
nem áridas secas minguem de roldão
é terra apenas, onde corpos tombam
derruídos da lida,
quando em transe de morte a guerra finda
são terras urbanas, de urbanas almas
onde cimento e ferro o formão instala,
terra de esquadros, frias geometrias,
quadrados sem aura, vias, dúvidas
e quem sabe vida ali se viveu
e ali se viva, entre escombro e breu,
se ainda vida, se ainda alma na alma
viva desta senhora
carcaça encarquilhada
entre tábuas e labaredas dos trastes
que restaram
dos trastes que restaram
do espólio de mil guerras por que passaram
braços e pernas,
nodosos troncos oriundos também da terra
que lhe tomaram,
e por isso chora
seu olhar acusa, embora não sobrem olhos
sob a ruína de rugas que se alastra em torno,
se alastra no corpo:
– que fez de mim o tempo?
e a câmara responde
(frio ponto de vista da máquina):
– não fora o tempo a mangar de ti,
a fazer-te os ombros jugo a empurrar engenhos,
teu corpo todo máquina que labora,
como a mim,
foram os homens que te fizeram e te estragaram.
– é a vontade do Pai...
– deus cínico!
treplica a máquina, triturando-lhe
as transidas engrenagens
em estilhaços de luz e de som
que através de cabos, ondas, informações digitais
viajam o universo em satélites e chegam,
incômodas,
ao conforto de uma casa que é minha por direito,
porque uma escritura o atesta,
porque um juiz da fé
e a polícia do Estado garante
e se não bastar, tem aí a tropa de elite,
a tropa federal e, carecendo, a internacional
a garantir meu direito de propriedade
contra teus parcos recursos,
tua precária posse da vida,
direito questionável que um miserável tem do corpo
(– agora,
um direito te é sagrado,
um direito teu deus te garante,
e as tropas dos Estados todos:
o direito de morreres, esse tens de sobra!
ou o direito mais sutil de uma cela
entre quatro paredes ou quatro tábuas de um caixão,
onde a diferença?)
eis aqui a terra,
eis a guerra dos homens,
eis a fronteira e último limite,
eis a balança em que se pesam homens,
eis meu silêncio
contra a história de vida e de morte
do Pinheirinho, São José dos Campos.
Gustavot Diaz
Fevereiro de 2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário