Alexandre França
deixe o limite
adormecer
entre comigo neste
ecossistema
de calamidades
fisiológicas
comida processada,
refrigerantes,
bom ar,
desodorante e sexo.
deixe a tela nos
engolir
e mergulhemos
neste mar de vodka
e solidão aos
litros.
não há motivos
para voltar
há sim motivos
para acender o pulmão
com algum fluido a
cada lacuna desbravada.
vamos arrancar a
roupa do dia
com a nossa afiada
falta de bom senso
e mastigar o piso
carpetado do medo
com a dentadura
dos prédios mofados.
há sempre alguém
acordado por você
seus pais, sua
amante, seus filhos, a rua,
ou melhor: a sua
falta de culpa.
nossa série já
está montada
proibida para a
massa
proibida para
cachorros
proibida para a
sobriedade.
deixe o limite
adormecer
e comprove a falta
de tato que há numa manhã
a falta de orgulho
que há num final de tarde
há falta de tédio
que há na noite.
vamos, com os
facões da obviedade
desligar os
programas de auditório
cortando cabeças,
cortando frases,
o direito de
resposta.
as grandes
conquistas não serão mais grandes conquistas,
os grande homens
não serão mais grandes homens,
pois grandes
seremos nós, sem motivos ou discursos,
apenas a nossa
existência ilimitada
pois a falta de
limite nos dá este presente:
dificilmente
iremos perceber
a morte ao nosso
lado.
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