sexta-feira, 23 de novembro de 2012


De Mara Paulina Arruda.

Baronesa da Limeira, um lugar solitário. Ele estava rodopiando em si mesmo quando cheguei. Vim por aquela estradinha, está vendo? Não? Não é possível! Veja, feche os olhos e imagine uma estradinha ainda de terra batida, num corredor da sua vida. Víamos contando de alguém que contava nos dedos os dias. Parava. Contava as formigas. Parava de novo. Olhava para o céu e contava as nuvens. Em seguida contava os pássaros. Seguia assim até chegar a casa. Puxava umas pelezinhas entre as unhas, reclamava das mãos marcadas por empilhar as achas de lenha. Tinha contado umas quatrocentas. As linhas das mãos, brancas, esfoladas pelas felpas dos troncos dos pinheiros e carvalhos. E foi assim até perder-se no contar das folhas amareladas pelo outono. Numa tarde, os olhos de alguém misturaram-se com o ocre das folhas rodopiando uma ferroada de saudades que golpeou o seu coração. Conseguiu ver?

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