domingo, 25 de novembro de 2012

Lenda do Anu do Fandango



 
No século dezoito, no litoral do Paraná, nasceu uma linda escrava negra numa noite de eclipse, que recebeu o nome de Anula. Mas, o problema é que a pobrezinha tinha as pernas tortas. Então surgiu uma lenda que dizia que esta criança veio com problemas nas pernas por ter nascido numa noite de eclipse. Com o passar do tempo, a garota cresceu e chegou à adolescência. Ela gostava de ver as pessoas dançando, mas tinha uma certa inveja dos bailarinos, pois por causa de suas pernas tortas, a jovem era impedida de bailar. Assim, ela vivia sonhando em ser um pássaro para voar pelo céu livremente. Uma noite, Anula viu uma estrela cadente no céu e fez logo este pedido:
- Estrela, por favor, faça com que eu vire um pássaro depois da minha morte.
Naquela época estava surgindo uma dança chamada Fandango, que era uma mistura das seguintes culturas: indígena, portuguesa, espanhola, negra e cigana. Quando chegava à noite, os sons das violas e das rabecas se misturavam com as batidas dos tamancos pelas senzalas, campos, cortiços humildes e acampamentos ciganos. Assim, as saias rodadas davam um brilho a mais para este tipo de dança. Porém, Anula via, todo este espetáculo, sentada e triste porque não podia dançar.
Um certo dia, esta jovem ficou com inveja das festas dançantes, roubou os instrumentos e escondeu-os em uma gruta. Porém, a filha do capataz seguiu a menina e contou tudo para o seu pai, que logo, fez fofoca para o dono da fazenda. Assim, o patrão mandou o capataz dar chibatadas, na pobre, que acabou morrendo de tanto apanhar.
Quando Anula chegou ao céu, São Pedro não aceitou esta moça porque ela não era, totalmente, boa. Assim, a donzela desceu ao inferno e o diabo não quis ficar com a jovem, porque ela não era, totalmente, má. Deste jeito Anula foi até o purgatório. Então, o anjo deste umbral disse-lhe:
- Você não é boa o suficiente para ir ao céu e nem tão má o bastante para ficar no inferno. Como você foi muito invejosa, terá que voltar à terra em forma de pássaro, como naquele pedido que você fez a uma estrela.
Deste maneira Anula voltou à terra como um pássaro escuro chamado anu. Assim, com o formato de ave, logo, este anu procurou uma roda de fandango. Deste jeito, o pássaro começou a “granir” e a fazer barulho para atrapalhar a festa. Porém, naquele momento, um violeiro notou a travessura da ave e compôs esta música para ela:
“- Anu, por favor, não atrapalhe este música...
Pois dedicarei esta primeira melodia...
De uma forma única e lúdica...
Para você não invadir a poesia!
 
- Você é anu, mas não é colibri...
Mas, dedico esta canção para ti...”
Ao escutar esta música com lindos ritmos e palavras, a ave se emocionou e ficou quieta.
Então, a partir daquele instante, em toda a roda de fandango, a primeira música passou a ser dedicada ao pássaro anu, justamente, para que ele não atrapalhe a festa. 

Luciana do Rocio Mallon  
 

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