De Mara Paulina Arruda
Sabe aqueles dias em que tudo verte? As miudezas do
amor. Eucaliptos cortados sendo carregados pelo motorista da madeireira. Ana
Carolina pulava corda em frente da casa. E lá lá lá lá. A criança no colo de
Luiz, o pai; a toalha suspensa, na metade da janela. As franjas sendo vistas
pelos que passavam na estrada. Manhã. E sabe lá deus em que ele estava
pensando. Com
a lenha nas costas subia a estrada íngreme de volta
para casa, no meio da palha seca; já estava na hora de começar a virar a terra,
ele disse. O outono, boa estação para semear. Ai eu falei e ele falou e fomos
ficando íntimos ao ponto de tocar um no braço do outro e deixar esquentar
aquele toque. O ônibus passou espalhando pó pra tudo quanto é lado. Barulho
ensurdecedor, pelo menos pra mim, que gosto de ouvir o mugido do gado, o acuar
do cachorro e o pipitar dos pássaros. Pouco vento para dar frescor na pele por
conta do sol ardido daquele dia. Miryane de Lima- uma mulher de voz fininha,
estridente - é mãe de Ana Carolina. Ela reclamava da chuva em demasia dos
últimos tempos “chuva demais enjoa e ainda bem que hoje tem sol!” e ralhava com
Ana que ainda não tinha feito a lição da escola. As verduras e hortaliças na
estufa germinando. E, assim chegamos atolados em olhar um para o outro.
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