Elsa Oliveira
orquídeas mergulham no
breu esverdeado do meu sonho. o verde líquido das suas folhas deambula névoas
na pura respiração do segredo. esfumam-se as pétalas terríveis e ternas,
diluem-se os doces dedos de leite, penetrando o sopro aquoso do lago. suspensos
nadas negros de ternura nos escombros oníricos do ser mais puro.
oblíquos impossíveis,
folhas lâmina rasgando suave e inequivocamente o ar do poema. escondem-se raras
auroras guardadas na espera a que o papel obriga. querem voar, como os pássaros
penumbrosos e soberbos no dorso da manhã. mas os sonhos são desenhos a tinta da
china sobre uma folha de nevoeiro.
as folhas cortam a luz
e o real, ladeiam com amores aguçados as gotas lânguidas do medo. os sonhos
devem tocar-se com dedais. brumas cantam o silêncio de tempos imemoriais, lugares
perdidos do etéreo e do assombro.
onde me posso perder?
dá-me o teu ombro-esfera de brisa e de sombra, a pérola do teu sussuro. o
repouso da lua é aqui, entre o mínimo e o imenso, ninho da onda suspensa, reino
do deslumbre na tua constelação de inefáveis.
está tudo quieto.
escuta. vê com os olhos nus e a alma aberta a nobreza do mundo. sente as suas
mais subtis flutuações, o devir da quietude. o real absorve-te as pupilas no
seu caudal de aguarela - todo o ser é infuso.
Elsa Oliveira....Portugal
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