Otto Leopoldo Winck
Mais fragmentos de Jaboc (capítulo II)
Pôr do sol, ocaso, crepúsculo, poente - tantas palavras para
a mesma coisa. O de ontem, por exemplo: estupendo. Tons alaranjados, rubros,
róseos. Alguns laivos lilases. Uma tela impressionista sobre a cidade alheada.
Transeuntes apressados, um casal de namorados, uma puta com varicoses. Eu,
sentado num banco do parque, um livro aberto nos joelhos, os céus abertos, a
súbita compreensão. À minha frente, o lago. Vermelho. Ocidente ensanguentado.
(...)
Hoje fez outro pôr do sol daqueles. De repente, diante de
tamanho esplendor, eu me sinto pequeno, minúsculo, um grão. Que palavra, que
poema, que canção tornaria o crepúsculo mais belo e a vida menos breve? Não
somos, nunca seremos nem mesmo uma nota de rodapé à obra da natureza. Obra,
esta, cega, surda, mas em algumas ocasiões – hoje foi uma delas – de uma beleza
tão estupefaciente que parece que tudo faz sentido.
Foi uma vez. Lá por março de 2006, eu e o Sergio Viralobos
fizemos esta letra de canção, especialmente concebida para um espetáculo
teatral do mesmo nome dirigido pelo Felipe Hirsch.
Creio que seria (ou foi) musicada pela dupla múltipla Rodrigo
Barros Del Rei e Luiz Antonio Ferreira.
Não sei se os versinhos foram ou não utilizados na peça ou
ainda vagam pelo vácuo, mas que foi divertido foi.
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