terça-feira, 16 de setembro de 2014

Jaboc

Otto Leopoldo Winck

Mais fragmentos de Jaboc (capítulo II)

Pôr do sol, ocaso, crepúsculo, poente - tantas palavras para a mesma coisa. O de ontem, por exemplo: estupendo. Tons alaranjados, rubros, róseos. Alguns laivos lilases. Uma tela impressionista sobre a cidade alheada. Transeuntes apressados, um casal de namorados, uma puta com varicoses. Eu, sentado num banco do parque, um livro aberto nos joelhos, os céus abertos, a súbita compreensão. À minha frente, o lago. Vermelho. Ocidente ensanguentado.
(...)
Hoje fez outro pôr do sol daqueles. De repente, diante de tamanho esplendor, eu me sinto pequeno, minúsculo, um grão. Que palavra, que poema, que canção tornaria o crepúsculo mais belo e a vida menos breve? Não somos, nunca seremos nem mesmo uma nota de rodapé à obra da natureza. Obra, esta, cega, surda, mas em algumas ocasiões – hoje foi uma delas – de uma beleza tão estupefaciente que parece que tudo faz sentido.
Foi uma vez. Lá por março de 2006, eu e o Sergio Viralobos fizemos esta letra de canção, especialmente concebida para um espetáculo teatral do mesmo nome dirigido pelo Felipe Hirsch.
Creio que seria (ou foi) musicada pela dupla múltipla Rodrigo Barros Del Rei e Luiz Antonio Ferreira.

Não sei se os versinhos foram ou não utilizados na peça ou ainda vagam pelo vácuo, mas que foi divertido foi.

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