sexta-feira, 1 de maio de 2015

Bárbara Lia

Uma caminhada até o Supermercado foi o suficiente para perceber, e até invejar, o dia a dia das pessoas distantes dos questionamentos. Um velho de chinelo de couro planeja uma viagem ao litoral para pescar. Ele fala com o amigo, ele é tão velho que nem sei se consegue chegar até a esquina, mas, ele faz planos. Planos de pesca, de rio, de mergulho na natureza. Um moço passa em sua bicicleta, leva um pacote grande de fraldas. O filho deve ser o pensamento. Leva fraldas para o filho. Um dia vai crescer, vai precisar de Escola. O mundo fica parado por alguns segundos. Quem somos na ordem do mundo? Que importância para o mundo? Que importa os poetas? Que importa a segurança dos que educaram nossos filhos, nossos filhos que ainda ontem precisavam de fraldas, eram nosso único pensamento. A vida era uma bolha do paraíso, a criação renovada. Cada filho é uma fatia de céu que se abre, pisamos o começo, acreditamos em Deus... Um homem alto e belíssimo atravessa a rua, será que ele tem consciência de sua força bruta de beleza? Não olha para lado algum, calça jeans surrada, sósia do Tom Selleck quando jovem, aquele ator do seriado Magnun. Um minuto mais de silêncio, o sinal abre, atravesso a rua e na praça de alimentação do supermercado, pessoas conversam, comem, a TV mostra a luta de ontem, nenhuma cabeça se move, súbito uma mulher se move, olha para a tela, volta a falar com o marido... Quem somos nós na ordem do mundo? Os que vivem pelo Ensino, é uma espécie de missão... Isto de ser quem cuida do humano, ensina, apresenta mundos, ergue espaços de possibilidades, escancara o novo. Estes dias meu netinho de cinco anos disse: Eu sei falar uma palavra em inglês: blue. É azul. Ele sabe contar até dez em inglês, mas, a palavra engrandece quando nomina tudo a redor, ele começou a nominar o mundo em outra língua, e nunca a palavra Blue foi tão poética, nunca tão poética como na voz do neto. Azul. O azul. Sempre. Esta cor que é quase um ser vivo... E o céu escancara esta leveza de céu de Curitiba... Eu vi hoje os que não estão retalhados dentro, e invejei a vida simples... Quero a pescaria, o mato, o filho que acabou de nascer, contemplar uma espécie de masculina beleza, e brincar no chão com o meu neto... dragões e carros, batman e homem aranha, estas coisas de menino. Ler uma história, apagar esta imagem que não descola, esta dor que atingiu gente próxima, professores distantes... Esta coisa sem nome, esta falta de beleza, esta ausência de humanidade...


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