De Mara Paulina Arruda
Seis horas da manhã. Saiu do prédio. Carregava uma bolsa no
ombro direito e uma sacola com o notebook na mão esquerda. Vestia-se com um
terninho que tinha na lapela um emblema da firma em que trabalhava. Caminhava
até o estacionamento para buscar o carro. Dentro de si remoia as discordâncias
da vida. Tinha lido num outoodor “Lágrimas não são argumentos” de quem seria
esta frase? Olhos secos. Entrou no carro. Desceu do carro. Tirou a multa presa
nos pára-brisas. Voltou para o interior e para o carro. Buscou na bolsa um
retrato. Pão pão, queijo queijo. A vida é assim. Conferiu a última mensagem
recebida no celular. Jogou o celular no banco traseiro do carro. Só lembranças.
Modo estrábico de ver o passado disse dando ré no carro para fazer a volta e
pôr-se no caminho do labor. O machucado dava ferroadas fazendo com que ela se lembrasse
de uma presença em cada esquina da cidade. O vulto aparecia e desaparecia entre
as esquinas. Passou por mendigos e pensou que alguns estão no presídio, outros
no cemitério e outros agente encontra por ai quando menos se espera... Seguia
sem ter saudades dos filhos que não teve. Um dia foi sonho, só isso e nada
mais. O vento bateu nos seus cabelos e ela disse que era de ar que precisava e
o nó na garganta logo iria se desfazer assim que o dia comercial recomeçasse. O
melhor mesmo para qualquer dor é achar o que fazer, sua mãe disse isso um dia.
Mães? Passou por elas que levavam seus filhos para as creches. Freou
abruptamente: estranha lhe era a palavra maternidade.
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