De Mara Paulina Arruda
Então um holandês inventou de fazer um barco na planície.
Lugar longe de seu mar. Uma carranca a frente do barco protegia e assustava os
pinheiros no pátio onde fora construído. No casco deste barco uma adega feita
com pedras trazidas do Rio Uruguai. Nas tardes em que ficava sozinho ia para a
parte de cima do barco, próximo do mastro e sentia o cheiro das águas
e dos peixes. Protegia-se com um casaco grosso puxando-o até
a cabeça. O corpo dobrado, lutando com a força do vento e sacudindo, na sua
memória, o barco em alto mar. Perdia-se nas sensações até o sol se pôr e a
noite fria alertá-lo que precisava voltar.
Que eu me lembro, agora já nem sei se é verdade – faz tanto
tempo- a mulher que veio com ele adoeceu vindo a morrer e, ele chorou essa
perda, no restante do percurso de sua existência. Não teve herdeiros. E hiatos
perpassam a diáspora misteriosa de sua vida.
Um dia, era feriado, este homem holandês acordou decidido.
Iria voltar para o seu país. Fez as malas, juntou os remos, tirou de uma caixa
o passaporte e avisou o caseiro que iria matar as saudades de sua família.
Disse que talvez uma prima ainda estivesse viva e ele poderia reviver sua
origem.
Nunca mais regressou.
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