De Mara Paulina Arruda
John chegou numa noite de outono, às 4 horas da manhã. Na
Avenida Nereu Ramos ele passou de táxi indo ao endereço da casa de sua
namorada, a Valéria. Falando com certa dificuldade o português tentava se
comunicar com o taxista, um tipo bonachão vestido com um casaco grosso e com um
gorro que quase cobria os olhos. En
tregou a ele o endereço de Valéria. O taxista quis saber o
motivo de ele estar aqui no Brasil, qual a sua profissão e quase ia pedindo o
número do passaporte de John quando John o interrompeu dizendo que conhecera
Valéria cinco anos atrás quando ela foi fazer um intercâmbio em Londres. E as
perguntas corriam do taxista para John da mesma forma que o táxi atravessava
avenidas, ruas e sinais. Ele, apavorado, transitava nos labirintos da língua
portuguesa, no modo rápido do taxista conversar com ele e nas ruas iluminadas
pelos postes de luz. Estava morto de cansado e queria chegar ao endereço de
Valéria para poder abraçá-la, beijá-la e matar as saudades decorrentes de um
ano de distância. Mas as mulheres,... huumm... As mulheres são um segredo só,
disse, o que o taxista, prontamente, concordou. John falou de Shakespeare, o
poeta de sua terra “Love’s not Time’s fool, though rosy lips and cheeks/
Whithin his bending sickle’s compass come;/ Love alters not with his...” só que
foi interrompido por um sorriso glacial do taxista que desandou a contar as
suas agruras amorosas fazendo com que John se arrependesse da citação do poeta.
E quando John disse que era escritor o taxista quase parou o carro perguntando
se era verdade ou se John estava fazendo uma brincadeira; assustado,
prosseguiu. John estava apreensivo com o horário de sua chegada. Pensou que
poderia ser descortês chegar naquela hora, sem avisar, mas tinha planejado
fazer uma surpresa. E, dentro do carro, perto do prédio de Valéria buscou o
celular em plena avenida Kennedy. Houveram alguns minutos de suspense até que
John recebeu um alô sonolento, do outro lado da linha fazendo com que ele
sorrisse com o taxista.
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