segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O PIOR DO BRASIL É A VIDA DO BRASILEIRO.


Off: P. foi abandonado quando era criança. Sua primeira lembrança é a parede suja da Febem. P. tinha um sonho: ter uma família, numa casa limpa de verdade. Fugiu da instituição oitenta vezes para tomar chuva de madrugada. Numa delas, foi adotado. Uma professora francesa levou P. para a sua primeira casa.

Sonora: Eu inundei a casa dela. Ao invés de me bater, ela me explicou a ligação entre terrorismo e resistência! Também falou que a água tem um significado religioso, e portanto ela compreendia meu comportamento de criança latino-americana, mas teria preferido educar um incendiário.

Off: Mesmo assim, P. não desistiu. Tornou-se educador e já inundou mais de vinte escolas. As pessoas pensam que é uma pedagogia alternativa, ou que ele quer afogar o mundo, mas P. insiste. Um dia ele vai ser compreendido. P. foi demitido mais uma vez e o governo não o deixa adotar uma criança, porque tem medo que ela se afogue, mas ele vai começar tudo de novo. Porque P. é brasileiro, e insistirá até a morte.

Gerador de caracteres: O PIOR DO BRASIL É A VIDA DO BRASILEIRO.



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Off: P., desde muito pequena, queria ser professora. Aprendeu a ler sozinha, mas ninguém nunca lhe estendeu um pedaço de papel. Aos sete anos, P. realizou sua primeira conquista: atingiu a idade de ir para a escola. Depois, mesmo acordando às cinco da manhã para dar aulas, ela fez faculdade. Isso foi possível porque P. é uma dessas pessoas que aprendem o dobro na metade do tempo e nunca teve uma faculdade à sua altura. Além do curso de pedagogia, ela enfrentou a cegueira de um olho. Depois, o destino não sossegou e lhe deu um problema cardíaco, por ficar lutando tanto o tempo todo. Mas P. não deixou a morte procurá-la, foi ela mesma peitar a morte, e achou mais uma preocupação. Quis fazer Mestrado. Foi eliminada na primeira seleção embora tivesse o melhor projeto. A banca achava P. muito negativa. Ela não desistiu: entrou no ano seguinte. Agora, tinhosa como ela só, encasquetou de fazer doutorado. Dessa vez, o destino não ofereceu obstáculos, porque P. agora é professora universitária, não é mais pobre, e não teve outros problemas de saúde por fazer o dobro na metade do tempo. P. não depende mais de bancas imbecis, porque hoje P. já tem um nome. Agora, ela vai procurar alguma outra coisa pra sofrer. Porque P. é brasileira, e insistirá até a morte.

Gerador de caracteres: O PIOR DO BRASIL É A VIDA DA BRASILEIRA.



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Off: P. trabalha duro, para ele e sua família um dia terem uma vida melhor. Ele mora na periferia de Brasília. Um dia, encontrou uma coisa que mudaria sua vida para sempre: uma carteira cheia de dinheiro.

Sonora: No que vi a carteira, minha intenção foi uma só: devolver.

Off: P. pegou a carteira e foi para a Infraero, onde trabalhava há mais de trinta anos, mas antes de chegar ao Achados e Perdidos tomou um cacete na cabeça, foi chamado de nordestino safado e preso. Hoje, conta essa história para todo mundo na cadeia, mas nem o pastor da sua igreja acredita nele.

Sonora: Quem devolveria 15 mil dólares PARA UM SUECO? Eu é que não!

Off: Muitas pessoas dizem que isso seria desprezar um presente de Deus, mas P. acredita num valor: a honestidade. Mesmo sabendo que sua pena já expirou e ele só não é solto por falta de um advogado, continua jurando que ia mesmo deixar o dinheiro no Achados e Perdidos. Porque ele é brasileiro, e insistirá até a morte.

Gerador de caracteres: O PIOR DO BRASIL É A VIDA DO BRASILEIRO.
Sabrina B Lopes

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