quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Também sou predador!


 De Mara Paulina Arruda

No tempo em que o tempo jazia lento Jeremias discutia a volta para casa. Deixe de fazer tanta fita resmungou Osvaldo. Deu-lhe uma cotovelada na alma atarantada. Um degrau a frente ele desenhava bonequinhos de palito e sussurrava. Não queria que soubesse o que passava dentro de si. Do pouco que me orgulho, ele dizia, esse Jacarandá não sai daqui. Fui eu que plantei. Sim, sim, eu sei que ele é matéria bruta para ressoar os acordes do violão. No espelho da penteadeira um bilhete que alguém deixou. No guardanapo escrito achado numa noite num barzinho um poema dobrado e guardado dentro do bolso da jaqueta. Quase uma biblioteca viva, ou melhor, um sebo. Jeremias esse tapado ficou mastigando as letras das palavras que sussurrava da vizinhança de Cecília. Não era a poeta. Era outra mulher. Atrás de si jangadas carregadas de madeira cujo destino era a Argentina passavam despercebidas por Osvaldo. Foi só ele Jeremias quem viu. E Cecília, que estava a poucos metros dali, e que balançou a cabeça sorrindo das crueldades e casualidades do dia.

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