De Mara Paulina Arruda
No tempo em que o tempo jazia lento Jeremias discutia a
volta para casa. Deixe de fazer tanta fita resmungou Osvaldo. Deu-lhe uma
cotovelada na alma atarantada. Um degrau a frente ele desenhava bonequinhos de
palito e sussurrava. Não queria que soubesse o que passava dentro de si. Do pouco
que me orgulho, ele dizia, esse Jacarandá não sai daqui. Fui eu que plantei.
Sim, sim, eu sei que ele é matéria bruta para ressoar os acordes do violão. No
espelho da penteadeira um bilhete que alguém deixou. No guardanapo escrito
achado numa noite num barzinho um poema dobrado e guardado dentro do bolso da
jaqueta. Quase uma biblioteca viva, ou melhor, um sebo. Jeremias esse tapado
ficou mastigando as letras das palavras que sussurrava da vizinhança de
Cecília. Não era a poeta. Era outra mulher. Atrás de si jangadas carregadas de
madeira cujo destino era a Argentina passavam despercebidas por Osvaldo. Foi só
ele Jeremias quem viu. E Cecília, que estava a poucos metros dali, e que
balançou a cabeça sorrindo das crueldades e casualidades do dia.
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