sábado, 16 de maio de 2015

SONETO DO POEMA COMO UM FACHO


Um rosto que desconhecesse rugas
ou quem sabe uma pedra: humilde e forte.
Mas não, que em vez disso enviesadas fugas
nos esvanecem sempre o impulso em morte.
Jamais teremos a alta placidez
das estátuas que observam o horizonte.
O fim está inscrito em minha tez
e em teu olhar há o vazar de uma fonte...
Recolhe então, com essas mãos, o vento,
a mágoa, e guarda-os numa concha. – O poema
não é mais que isto: um sacrário, uma estela,
pequeno relicário onde o alento
do tempo está mantido em luz e gema:
o poema é um facho – dentro de uma cela.
Otto Leopoldo Winck


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