De Mara Paulina Arruda
A primeira vez que ouvi falar de Joel o sapateiro foi pelas
palavras de meu pai. Eles jogavam dominó juntos. Joel tinha ganhado um torneio
na cidade e meu pai não se conformava. A segunda vez que ouvi falar dele foi
minha irmã que reclamava por ter extraviado um par de sapatos dela. Dali pra
frente causos, histórias as mais diversas sobre o sapateiro Joel permeavam os
fins de tarde. Solteirão, homem do campo, não conheceu o mar. Quando não estava
trabalhando nos seus sapatos era no tocar do seu acordem que se perdia. Dizem
que teve uma única paixão na vida. Nos sábados, domingos e feriados Joel
dedicava-se a tocar em seu acordeom as saudades dela. Quem era? Até hoje
ninguém sabe. Mas ontem, ouvi mais uma conversa sobre Joel. Velho e doente teve
que mudar-se da cidade. Com poucos dentes na boca, uma artrite crônica fez as
malas e foi embora. Nós, curiosos, fomos saber a causa. Vai daqui, vem dali
descobrimos que sua sapataria iria ser posta abaixo porque um empresário
comprou o lote onde estava o prédio da sapataria. Joel indignado juntou suas
coisas e foi tocar em paz a valsa do adeus no longe da cidade.
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